Documentos a que a Lusa teve hoje acesso revelam alterações significativas ao traçado da futura estação de alta velocidade em Vila Nova de Gaia, que será deslocada cerca de dois quilómetros para sul, abandonando o local inicialmente previsto em Santo Ovídio. A proposta será votada esta quinta-feira em reunião extraordinária da Câmara Municipal e na Assembleia Municipal.

Porto e Gaia ganham duas novas pontes à boleia do TGV

A nova localização da Estação de Alta Velocidade de Vila Nova de Gaia, prevista agora para a zona de São Caetano, em Vilar do Paraíso, representa uma alteração ao plano original que previa a sua implantação em Santo Ovídio. De acordo com documentos que irão a votação numa reunião extraordinária da Câmara de Gaia, agendada para esta quinta-feira às 16h00, e na Assembleia Municipal no mesmo dia às 21h00, a proposta desloca a estação cerca de dois quilómetros para sul.

A localização proposta situa-se entre a Rua da Junqueira de Cima (a norte e poente), a Rua e Travessa do Guardal de Cima (a sul) e a Travessa de Belo Horizonte (a nascente). A proposta inclui ainda um conjunto de novas acessibilidades rodoviárias e o prolongamento da Linha Rubi do Metro do Porto, desde Santo Ovídio até à futura estação, no lado poente, com os encargos a serem partilhados entre o consórcio responsável pela obra pesada e a Metro do Porto, que ficará encarregue da instalação da linha e dos respectivos equipamentos.

No entanto, os serviços técnicos municipais alertam que, devido à elevada densidade de infraestruturas na área de Santo Ovídio, o prolongamento da linha se apresenta como uma obra particularmente complexa. Estima-se a necessidade de desviar o acesso rodoviário para poente, sobre um talude ajardinado, o que poderá ter um impacto negativo devido à proximidade com edifícios residenciais.

Apesar da possível deslocalização da estação, o município deverá manter o Plano de Pormenor actualmente em elaboração para a zona entre as estações de Santo Ovídio e D. João II.

Duas pontes distintas para ferrovia e rodovia
Relativamente à travessia do rio Douro, a proposta retoma a separação entre as componentes ferroviária e rodoviária, a serem executadas em duas pontes distintas. Segundo os documentos, esta decisão visa reduzir riscos de financiamento, atrasos na obra e garantir uma clara divisão de responsabilidades futuras na manutenção das infraestruturas.

Outra alteração relevante prende-se com o tipo de construção previsto para o traçado em Gaia. Se anteriormente a maior parte da linha estava projectada para ser construída em túnel subterrâneo — com 9,2 quilómetros dos 12 totais no concelho —, a nova proposta reduz significativamente a extensão em túnel e aumenta a construção à superfície. Estão agora previstos 3.494 metros de túneis mineiros, 1.666 metros em túnel do tipo “cut & cover”, 940 metros em aterros, 5.264 metros em escavação e 1.524 metros em muros.

A análise comparativa entre as duas soluções aponta para um agravamento do impacto superficial três vezes superior. A linha passará de 2.540 metros construídos à superfície (em escavações, aterros e muros) para 7.728 metros, um aumento substancial que levanta preocupações quanto ao efeito no território urbano consolidado.

Segundo os documentos, a nova proposta confronta-se directamente com zonas habitacionais e industriais já existentes, exigindo a implementação de diversas soluções de restabelecimento viário para minimizar a fragmentação territorial criada por este novo traçado, mais extenso e intrusivo.

Além disso, o impacto não se limita à linearidade da infraestrutura. A área envolvente será igualmente afectada, estando previstas expropriações e demolições nas zonas de intervenção, tanto para permitir a instalação da linha como para criar áreas de trabalho adequadas à execução da empreitada.

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