A fotógrafa portuguesa Maria Abranches foi distinguida na categoria de História da região Europa no prestigiado concurso World Press Photo, com um projeto que retrata a vida de Ana Maria, uma mulher cuja história ecoa a de muitas outras que, de forma silenciosa, moldam e sustentam o mundo.
“MARIA conta uma história comum a inúmeras mulheres, cujo contributo silencioso construiu, moldou e sustenta o mundo como o conhecemos. Ana Maria nasceu em Angola, foi trazida para Portugal com nove anos e, nas suas palavras, passou a vida inteira a limpar”, escreveu Maria Abranches no Instagram sobre o projeto que lhe valeu o prémio.
O trabalho foi considerado pelo júri como “comovente e profundamente complexo”. “A fotógrafa conseguiu conectar-se com o seu modelo de forma respeitosa, registando diferentes momentos do seu quotidiano. Através destes enquadramentos intimistas, destaca detalhes reveladores — lembretes simbólicos das consequências persistentes do passado colonial de Portugal. A obra desperta a reflexão sobre como esta história continua a moldar as estruturas sociais de hoje”, pode ler-se no site do World Press Photo.
Maria Abranches trabalha como fotógrafa documental independente, utilizando a fotografia como meio para destacar questões críticas, amplificar vozes marginalizadas e inspirar mudança.
Em declarações à agência Lusa, horas depois do anúncio do prémio, expressou a esperança de que “a visibilidade de um trabalho sobre as cicatrizes deixadas pelo colonialismo português possa ser um ponto de partida para o debate sobre a reparação histórica”.
“Esse é o meu principal objetivo, e também fazer uma homenagem a todas estas mulheres, que, como a Ana Maria, dedicam as suas vidas a construir o mundo e a permitir que as pessoas e as instituições continuem as suas vidas”, acrescentou.
Para a fotógrafa, “Maria” é ainda “de certa forma, uma homenagem à presença secular africana em Portugal, que também foi determinante para construir a identidade portuguesa”.
Reconhecendo que já houve “muitas tentativas de outras pessoas” para colocar a reparação histórica no centro da discussão pública, Abranches defende que “se deveria ter começado a falar mais sobre isso do que se fala”.
“Acho que nunca foi um tema que teve a atenção que merece, e acho que seria determinante para mudar um bocado as estruturas sociais do nosso país, que se mantêm desde o colonialismo, e o racismo, que vem como consequência disso”, afirmou.
No total, foram distinguidos 42 trabalhos, escolhidos a partir de quase 60 mil candidaturas submetidas por 3778 fotógrafos de 171 países. A cerimónia de entrega dos prémios decorrerá a 17 de abril, data em que será anunciada a Fotografia do Ano.
“As imagens premiadas são de luta e desafio, mas também de ligação humana e coragem — um trabalho visualmente impressionante que nos leva mais profundamente às histórias por detrás das notícias”, afirmou Lucy Conticello, diretora de fotografia do Le Monde e presidente do júri global do concurso de 2025.