A campanha de vacinação contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) teve um impacto significativo na redução de casos graves e internamentos em unidades de cuidados intensivos pediátricos. Os diretores dos serviços de Pediatria dos hospitais Dona Estefânia e Santa Maria, em Lisboa, confirmam uma diminuição expressiva dos internamentos, evidenciando a eficácia da estratégia de imunização.

Vacinas contra vírus que provoca bronquiolites tiraram bebés dos cuidados intensivos

Em declarações à agência Lusa, os especialistas sublinham a diferença “muito marcada” nos números. No Hospital Dona Estefânia, registou-se uma redução de dois terços dos casos, enquanto no Hospital de Santa Maria os internamentos em cuidados intensivos caíram de uma média de 40 para apenas cinco bebés.

O VSR é uma das principais causas de infeção respiratória em idade pediátrica, estando associado a bronquiolites e provocando epidemias sazonais que sobrecarregam os serviços de saúde. Perante este cenário, a Direção-Geral da Saúde implementou, no ano passado, uma estratégia de imunização gratuita para crianças nascidas entre 1 de agosto de 2024 e 31 de março de 2025, entre outros grupos de risco.

O diretor do Serviço de Pediatria Médica do Hospital de Santa Maria, Francisco Abecassis, classificou os resultados como “abissais”, afirmando que a doença “praticamente desapareceu” dos cuidados intensivos. “Em 2022/2023 tivemos 37 bronquiolites nos cuidados intensivos, e em 2023/2024 foram 30. A média ronda os 30 a 40 casos. Nesta época tivemos apenas cinco”, revelou, acrescentando que, desses, apenas três estavam relacionados com VSR, todos em crianças não vacinadas ou mais velhas.

Já no Hospital Dona Estefânia, embora a média global de internamentos não tenha diminuído significativamente, o perfil das crianças hospitalizadas sofreu alterações. O diretor do Serviço de Pediatria, Luís Varandas, referiu que, em 2023/2024, cerca de 70% dos internamentos por VSR correspondiam a bebés com menos de seis meses. Este ano, essa percentagem desceu para 45%. “Desses, 65% deviam ter sido imunizados, mas não foram”, destacou.

Ambos os especialistas apontam algumas falhas no arranque da campanha, inicialmente prevista para 1 de outubro, mas que só começou a 15 do mesmo mês e não teve uma implementação uniforme em todo o país. Quanto à afluência às urgências, notou-se uma “franca diminuição”, embora não seja possível atribuí-la exclusivamente à imunização, pois os testes ao VSR só são realizados nos casos mais graves.

Os dados laboratoriais disponíveis reforçam, no entanto, a eficácia da vacina, indicando uma redução de dois terços nos casos positivos entre as crianças testadas. Quanto à possibilidade de alargar a idade da imunização, Francisco Abecassis considera que seria necessário um estudo detalhado sobre o custo-benefício, dado o preço elevado do anticorpo monoclonal utilizado.

Já Luís Varandas defende uma abordagem mais abrangente, sublinhando a importância da equidade. “É provável que aplicar a vacina apenas a partir dos três meses seja mais custo-efetivo, pois reduz os gastos. Mas, como se verificou, muitas crianças acabam por ficar de fora desta imunização”, alertou, questionando os critérios de elegibilidade: “Porque é que uma criança nascida a 1 de agosto tem direito à imunização e outra nascida a 31 de julho não?”.

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